Projeto “Primeiro Berço” completa 1 ano no Hospital Santa Helena

Mamães que dão a luz no Hospital Beneficente Santa Helena, em Cuiabá, ao receberem alta, estão recebendo de presente uma caixa de papelão recheada de itens de higiene e cuidados para seus bebezinhos recém-nascidos, é o projeto “Primeiro Berço – Caixa do Tesouro”, que completou um ano de existência, nesta quarta-feira (17). Nesse período, já foram entregues quase 8,6 mil kits.

Laura e eu fomos conhecer o projeto pessoalmente. Eu fiquei encantada! Logo na recepção do hospital e maternidade está localizado o balcão onde são feitas as entregas. O coordenador Wigor Marques, um rapaz muito simpático, é o responsável por essa tarefa. Junto com a caixa de objetos, que também serve como uma espécie de ninho ou moisés para os recém-nascidos, ele entrega um folheto com orientações para as mamães e papais sobre a importância da prevenção da síndrome de morte súbita do bebê.


A caixa berço funciona como uma barreira mecânica que impede o bebê de virar-se e ficar de bruços, posição agravante para a síndrome. Dormir na mesma cama com os pais também pode provocar o sufocamento do bebê. Com a caixa, o recém-nascido pode aproveitar com segurança o sono ao lado da mãe, desde que apenas em cochilos. À noite, o ideal é que a criança durma em seu berço. Ainda é recomendado que este esteja no mesmo quarto dos pais, nos primeiros 6 meses de vida, conforme Academia Americana de Pediatria e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A caixa do projeto “Primeiro Berço” vem com um colchãozinho próprio, cueiros, fraldas de pano, sabonete, pomada para assaduras, lenços umedecidos, xampu e um brinquedo. A ideia é que, além de berço, a caixa sirva como uma caixa de recordações, que seja usada para guardar objetos dos primeiros anos da criança.

Dentre as mamães e bebês que ganharam o presente da maternidade, está Thais Vaz da Silva, 25, que, em um parto natural, trouxe ao mundo a linda Samira, nesta terça-feira (16). Ela conta que iria comprar o ninho para sua bebê, mas que agora irá usar a caixa. Ao ver os itens recebidos, ela ficou feliz e agradecida. 

Thais afirma que recebeu da equipe do hospital as orientações necessárias para evitar perigos na hora de amamentar e dormir com a Samira. Além disso, ela conta que já tem conhecimento, pois já é mãe de Ezequiel. “Eu já tenho um rapazinho e 3 anos. Aí a gente já fica meio experiente, meio esperta. Com ela, eu já sei mais ou menos como fazer, como evitar o perigo”, disse ao blog. 

Thais e sua filha Samira

O projeto Primeiro Berço, feito em parceria com a Unimed e o Próunim, foi idealizado pelo presidente do Hospital Santa Helena, o pediatra Marcelo Sandrim, que se inspirou em iniciativa semelhante, que já existe na Finlândia há 81 anos.

Segundo Sandrim, além de buscar a diminuição da ocorrência de morte súbita nos bebês, o “Primeiro Berço” também fomenta um começo de vida com simplicidade e igualdade, independentemente de classes sociais.

Em março, o médico esteve na Embaixada da Finlândia, em Brasília, apresentando o kit ao representante do país que fundou o projeto. “Há mais de 70 anos, todas as mulheres grávidas recebem um kit de maternidade do governo. Muitos acreditam que o kit ajudou o país a alcançar uma das mais baixas taxas de mortalidade infantil do mundo, e a nossa ideia é que possamos também contribuir com essa redução no Brasil”, afirma Sandrim.

Contraponto

Apesar dessa associação entre a distribuição da caixa berço com a baixa taxa de mortalidade infantil no país nórdico, especialistas passaram a questionar essa eficácia. Em artigo escrito para a revista científica BMJ, o professor de epidemiologia e estatística, Peter Blair, e sua equipe de pesquisadores britânicos, apontaram preocupação com a segurança da caixa, afirmando que ela deve ser usada apenas de forma temporária, se nada mais estiver disponível.

Os estudiosos afirmam que, em comparação com minicamas e moisés, as caixas dificultam a visualização do bebê pelos responsáveis, enquanto estão dormindo. Também elencam como riscos o fato da caixa ser potencialmente inflamável, deixar o bebê vulnerável quando colocada no chão e também a pouca durabilidade do material.

Além disso, Blair e equipe não reconhecem evidências de que as caixas tenham ajudado a Finlândia a reduzir a taxa de morte súbita em bebês, uma vez que países vizinhos, como Dinamarca e Suécia, não distribuem a caixa e também têm baixo índice da síndrome.

O fato é que, em 1938, quando o governo finlandês criou o projeto, as caixas eram entregues para mulheres grávidas, muitas delas moradoras de zonas rurais e sem acesso a médicos.  Muitas delas pariam em casa e em condições não muito adequadas, ao ponto de o governo incluir no kit papel limpo para ser usado no parto. O presente também era uma forma de incentivar que as mães buscassem ir com mais frequência ao médico e, assim, cuidarem melhor de seus filhos. O projeto acabou virando uma tradição no país, que também tem a ideologia de levar igualdade às famílias. Lá, até mesmo o presidente do país, ao tornar-se pai, recebe a caixa.

Síndrome da morte súbita do lactente (SMSL)

A definição dessa síndrome é “a morte súbita e inesperada, durante o sono, de criança com menos de 1 ano de idade, onde a história clínica, o exame físico, a necropsia e o exame do local do óbito não demonstram a causa específica do mesmo. A morte ocorre no local em que o bebe está dormindo (cama, carrinho…) e não existe previamente nenhum sinal consistente indicando que o bebê está em risco de vida”, conforme aponta artigo escrito por Magda Lahorgue Nunes, professora doutora de Neurologia da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e membro do Comitê de Neurologia da SBP.

Prevenção

Conforme a pesquisadora, existem 3 recomendações fundamentais para evitar a morte súbita ou por sufocamento de recém-nascidos:

1. Colocar o bebê para dormir com a barriga virada para cima. Segundo Nunes,  lactentes ou recém nascidos com refluxo gastro-esofágico ou outras condições médicas que impossibilitem esta posição devem dormir preferencialmente de lado.

2. Manter os recém-nascidos em ambiente sem contato com cigarro antes e após o nascimento. O tabagismo durante a gestação e o primeiro ano de vida aumenta o risco de SMSL em 2 – 4 vezes. Mesmo o hábito de fumar paterno pode influenciar este risco e deve ser evitado.

3. A cabeça do bebê deve ficar descoberta durante o sono e os pés encostados na borda do berço, evitando que este escorregue para baixo das cobertas.