Quando eu descobri que estava grávida, senti como se o chão tivesse se aberto debaixo dos meus pés. Na minha cabeça, aquilo jamais daria certo porque eu não sentia o tal do instinto maternal. Com o tempo, resolvi buscar mudança para que eu pudesse sim ser uma boa mãe. Mas, no começo, a boa mãe que eu buscava era a que conseguiria pelo menos cuidar das necessidades físicas da criança. E, por isso, fui fazer um curso de gestantes.
Em um dos tópicos, sobre amamentação, foi pedido para cada gestante falar em uma palavra o que representava para elas a amamentação. A maioria falava palavras como amor, afeto, carinho, vínculo. Eu e uma amiga ainda rimos entre nós: “Ninguém falou alimentação, que é o principal kkkkk”. Nós fomos as únicas que citamos tal palavra, ligada à função fisiológica do ato de amamentar.
Hoje, já com a Laura na introdução alimentar e ainda na amamentação em livre demanda, eu vejo o quanto eu não sabia de nada! Amamentar é sim alimentar, mas não somente a barriguinha do bebê, mas também as almas dele e da mãe. Eu descobri, com o passar do tempo, a importância do vínculo de amor e de afeto entre mãe e filho e como a descida do leite depende do estado emocional da mulher.
Eu mudei tanto nesses últimos meses que, nesta 1ª Semana de Arte e Cultura da Amamentação (Saca MT), fui com a Laura participar da oficina “massagem para bebês: vínculo e afeto”, da qual Laura, Joni e eu já havíamos participado quando ela estava com 2 meses.
Antes da aula prática, as facilitadoras – a fisioterapeuta Josemara Lima e a psicóloga Edileuza Silva – convidaram as participantes a falar sobre uma memória afetiva. O comum entre todas as recordações foi que nenhuma delas tinha a ver com bem material, mas sim com um colo, um gesto de cuidado fosse dos pais ou dos avós e também com momentos de união entre a família.
Com esse gancho, foi trazido ao debate como essas relações afetivas nos fazem ter certeza, agora adultos, de que são essas pessoas que nos davam colo e carinho lá na infância que são os nossos “portos seguros”, aqueles em quem confiamos e sabemos que sempre poderemos contar.

Também debatemos sobre como diversos fatores têm colaborado para prejudicar esse vínculo, como por exemplo, a indústria de artigos infantis, que nos apresentam objetos para “facilitar” a vida da mãe, como carrinho de bebê, cadeirinha vibratória, moisés, tapetes interativos, entre outros, que acabam por reduzir o contato pele a pele entre mãe e bebê, algo tão importante no início da vida e que interfere tanto na amamentação, uma vez que a produção do leite depende de hormônios como oxitocina, o hormônio do amor.
Sem o contato pele a pele fica difícil construir uma relação de afeto e, consequentemente, também fica difícil amamentar, o que já é um problema para muitas mulheres, que ainda por cima se veem rodeadas de pessoas com comentários de cobrança, julgamento e falta de empatia. Para aquelas mães, como eu, que tiveram que enfrentar uma jornada na busca pelo sentimento maternal, a coisa se mostra mais séria ainda!
Foi por isso que eu fui conhecer a técnica da shantala, uma massagem para bebês que pode ser feitas pelos pais, pelos avós, pelos cuidadores, pelas tias das creches e pelas enfermeiras dos hospitais. A prática ajuda a estabelecer um vínculo afetuoso, acalmando o bebê, melhorando seu sono, entre outros benefícios.
“Esse vínculo é absolutamente necessário e é importante a mulher saber também que faz pontes. Essa mulher precisa ser cuidada e precisa pedir apoio. A gente é constituída pra fazer tudo e uma das coisas que a gente precisa aprender de maneira urgente é pedir e as pessoas que nos rodeiam precisam também entender as nossas necessidades”, disse a psicóloga Edileuza, durante a oficina, ao destacar a importância da rede de apoio em torno da mãe, para que ela possa se dedicar exclusivamente ao filho nos primeiros meses, sem ter que ficar se sentindo culpada por não conseguir fazer as demais atividades domésticas.
A fisioterapeuta Josemara Lima explicou que a shantala é uma técnica milenar, que foi trazida ao ocidente graças ao médico francês Frédérick Leboyer, que, durante uma viagem a Índia, viu uma mulher sentada no chão, com um bebê deitado sobre suas pernas, enquanto era massageado. O nome da técnica recebeu o nome dessa mãe: Shantala. A técnica ajuda no descongestionamento intestinal, no combate à cólica, acalma o bebê, melhora a qualidade do sono, além, claro, de ser um momento que propicia a troca de olhares, sorrisos e carinho.

Hora de relaxar
Antes de iniciar a massagem, é importante verificar se o ambiente está agradável para o bebê. Se a temperatura está adequada, se há ruídos vindos de fora que podem assustar a criança. Nesse sentido, regular o ar condicionado e colocar uma música calma pode ajudar. Se a massagem for ocorrer no chão, é bom colocar o bebê sobre uma manta ou toalha. Mas ele também pode ficar sobre as pernas de quem o for massagear.
Também não é indicado fazer a massagem na hora em que o bebê está chorando por conta de uma crise de cólica porque ele ficará ainda mais estressado. A Josemara indicou fazer a massagem diariamente, um pouco antes de o bebê ir dormir ou um pouco antes da famosa “hora da bruxa”, por volta das 18h, 19 horas.
O bebê pode estar tanto peladinho quanto de fralda.
É necessário o uso de óleo vegetal ou mineral levemente aquecido, próprio para a pele do bebê. Na oficina, aquecemos o óleo esfregando as mãos. A função do óleo é facilitar o deslize das mãos na pele do bebê, que é muito delicada. O óleo deve ser vegetal ou mineral por terem menos chances de causar alergia na criança. Procure um óleo próprio para a idade do bebê.
Além de toda essa preparação, é importante que a pessoa que for realizar a massagem no bebê esteja tranquila e conectada a ele. Durante a massagem, é interessante conversar com o bebê de forma amorosa, olhar nos olhos dele para estabelecer o vínculo afetivo. “O mais importante é o toque terapêutico. Os momentos em que o bebê mais relaxa é quando a gente ajuda ele a relaxar. O bebê não consegue relaxar sozinho. Quando a gente foca no bebê e consegue estabelecer essa conexão, é quando eles mais se acalmam”, afirma a fisioterapeuta Josemara Lima.
Movimentos da shantala
Os movimentos da massagem abrangem todo o corpo do bebê. Na oficina, começamos colocando o bebê de frente para nós, de barriga para cima, pegando um pouco de óleo com a ponta dos dedos e espalhando por toda a palma da mão, esfregando uma mão na outra. Levamos as mãos sobre o peitoral do bebê de dentro para fora, do meio para os lados. Todos os movimentos são repetidos entre 4 a 5 vezes.
Depois fizemos o movimento de X, deslizando a mão do ombro do bebê até sua cintura do lado oposto, fazendo isso de ambos os lados, de forma que se forme um movimento de X. Em seguida, passamos as mãos de cima para baixo, de debaixo do pescoço até a barriga da criança. Também juntamos os pés do bebê e estendemos esse movimento até lá. O mesmo movimento de cima para baixo foi feito com o antebraço, fazendo uma leve pressão e girando o braço em nossa direção.
Nos braços, fizemos o movimento de deslizar as mãos do ombro até as mãos do bebê e também o movimento de rosca, também do ombro até as mãos. Nas pernas foi feita a mesma coisa.
Passamos para as costas, momento em que o bebê fica de bruços e deslizamos nossas mãos do pescoço até o bumbum. Depois juntamos os pés do bebê com uma mão e, com a outra, deslizamos do pescoço até os pés. Depois é feito o movimento de zigue-zague nas costas do bebê.
Por último, nós fizemos uma leve massagem na testa do bebê e também passamos o polegar debaixo dos olhos, puxando levemente do nariz para o lado do rosto.
Ofurô
Como um bônus da oficina, os bebês ainda ganharam um banho de ofurô para finalizar com ainda mais capricho a sessão de relaxamento. O ofurô de bebês é aquele balde em que colocamos água morna e limpa até a altura do ombro do bebê e o colocamos para se banhar e relaxar.
Durante a oficina, os bebês participantes já tinham entre 6 e 9 meses, então, nenhum deles ficou quietinho como vemos em vídeos de tutorial de shantala. Ficaram foi muito alegres, adoraram o banho morninho! A Laura até sorriu para as pessoas em volta! Quando fizemos o curso pela primeira vez, ela tinha 2 meses e ficou o tempo todo quietinha, só dando sorrisinhos e, no final da massagem, já estava dormindo. De qualquer forma, agora que ela está maior e mais agitada, o momento da massagem continua sendo gostoso, só que de uma forma mais divertida!


Adoro sua redação!! Sempre cheia de emoção!! Maternidade real!! Obrigada por compartilhar!!
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Ah que bom saber que está acompanhando e gostando, Gisela!! Eu que agradeço a sua leitura!! Beijos
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