Olá, tudo bem? Você tem ou já teve o desejo de ter um filho adotivo? Conhece alguém que passou pela experiência da adoção? Tem curiosidade de saber como fazer para adotar uma criança ou adolescente?
Nesta terça-feira (26), fiz uma entrevista ao vivo no Instagram @minhafilhaminhamae com a jornalista Keka Werneck, que é mãe de Helena, 20 anos, e do João Miguel, 2 anos, que chegou na família graças ao processo de adoção. Nós conversamos sobre a experiência dela com a maternidade, tanto dela com a mãe, dona Maria do Carmo, com os filhos e com a bebê que ela perdeu aos 6 meses de gestação, em 2013, mesmo ano em que decidiu, juntamente com o marido, o jornalista Márcio Camilo, entrar para a fila de adoção, tecnicamente chamada de Cadastro Nacional de Adoção (CNA).
Vou te contar, com base no exemplo desta família, qual é o passo a passo do processo de adoção.
A Helena é filha do primeiro casamento de Keka. Márcio não tinha filhos, mas também não tinha como grande sonho ser pai. Mas a jornalista conta que, mesmo antes de ser mãe, já tinha o desejo de adotar uma criança. Meses após perder o bebê, Keka comentou o desejo de adotar ao marido, que concordou. Ambos foram em busca de informações junto aos órgãos competentes e passaram por todo o processo de adoção, que envolve 9 etapas, começando pela tomada de decisão de querer adotar.

Entrando na fila de adoção
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), homens e mulheres, não importando o estado civil e maiores de 18 anos são aptos a adotar. A pessoa precisa ser, no mínimo, 16 anos mais velho que o adotado.
O segundo passo é procurar a Vara da Infância e Juventude de sua cidade para preencher o formulário e apresentar os documentos necessários para o cadastro de pretendentes. A avaliação pela equipe interprofissional da vara, seguida de parecer de um promotor de justiça, é a terceira etapa.
Preparação
O quarto passo, que foi trilhado pelo casal de jornalistas foi a preparação, que consiste em um curso, que dura cerca de um mês, oferecido pela Ampara (Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção). Keka relata que o curso da Ampara foi a primeira inciativa dela e do marido para adotar.
O curso abordou diversos aspectos da adoção, como o psicológico, o social e o jurídico, questões como o perfil das crianças que vão para os abrigos, a adoção tardia, a adaptação. Segundo a jornalista, também é explicado que a prioridade é a criança/adolescente e não a mãe e/ou pretenso pai, pelo fato de serem os mais vulneráveis. “É um curso muito bom! Eu gostei muito de fazer, mostrou bem a real, sem romantismo”, conta Keka. Ao final do curso, o casal recebeu um certificado. Com este documento em mãos é que o candidato a adotar inicia de fato o processo judicial da adoção.

Longa espera
Keka e o marido tiveram sua habilitação (5º passo do processo de adoção) autorizada pela juíza da Vara da Infância e Juventude e entraram para o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), mais conhecida como fila de adoção, que obedece a ordem cronológica de inscrição dos pretendentes a adotar.
A espera durou 5 anos! Nesse período, Keka e Márcio chegaram a acreditar que não chegaria sua vez, a empolgação do início esfriou, as condições financeiras mudaram em alguns momentos, devido a desemprego, e eles chegaram a pensar que não teriam mais condições de ter mais um membro na família.
Mas o casal deixou o processo seguir. Mais de dois anos depois de terem iniciado o trâmite, durante um almoço de domingo, receberam a visita surpresa de uma assistente social e de uma psicóloga. As visitas surpresa fazem parte da avaliação que o Poder Judiciário faz dos pretendentes a adotar. “Entraram, viram como a gente estava almoçando, como estava a limpeza da casa. Isso depois de uns 2 anos”, lembra Keka.
A família também teve a oportunidade de visitar um abrigo e conhecer a realidade das crianças. “A gente foi fazer uma visita num abrigo sem compromisso com nenhuma criança. Mas elas sabem. E as crianças olham pra você com cara de ‘me leva’. Isso corta o coração”, afirma a jornalista.
Em Cuiabá e Várzea Grande, existem quase 100 crianças e adolescentes vivendo em Casas Lares. Visando humanizar o tratamento, dando mais privacidade e condições de criação de laços entre elas e as cuidadoras, chamadas de “mães sociais”, as casas abrigam no máximo 10 menores. Lá, eles também recebem atendimento de psicólogos, assistentes sociais, são encaminhadas para cuidados médicos.
As crianças e adolescentes em idade escolar frequentam a escola regularmente. Aquelas que ainda não foram destituídas de suas famílias recebem visita dos familiares e as que já não possuem mais esse vínculo – e têm entre 8 e 18 anos de idade – podem receber visitas dos padrinhos afetivos ou prestadores de serviços, pessoas com autorização judicial para frequentar os abrigos e atuar como voluntários.

Enfim, o encontro
Do quinto para o sexto passo da adoção, que é ser chamado para conhecer o futuro filho, passou “um tempo gigante”, nas palavras de Keka. “A gente direto pensava: ‘Ih, isso aí não vai dar em nada’. Também teve uma época em que o Márcio perdeu o emprego, a gente pensou até que não daria conta. E foi passando o tempo… Mas não tem nada a ver com dinheiro. No dia que o cara ligou pra gente, caiu todo o discurso racional”, lembra, emocionada.
O servidor que telefonou para convidar a família de Keka a conhecer um menininho de um ano, o João Miguel, avisou que eles eram o nono casal na lista de pretendentes, mas os outros oito casais acabaram desistindo por ele ser cego de um olho. “A gente era o nono da fila, mas os oito não quiseram conhecer o João e agora ele é meu filho, MEU FILHO”, afirma a mãe.
A demora na espera de Keka e Márcio para conseguirem cruzar seu caminho com o de uma criança apta a ser adotada ocorreu mesmo sem eles terem feito muitas “exigências”. No momento em que a pessoa vai preencher o formulário inicial, ela precisa assinalar as características que deseja em seu filho (a) adotivo (a), por exemplo, cor dos olhos, da pele, do cabelo, etnia, se aceita crianças com deficiência, doença crônica, irmãos, etc. Keka e Márcio haviam excluído apenas duas características.
“A gente, na verdade, excluiu algumas questões que a gente não tinha estrutura mesmo pra receber: crianças com problema cerebral – que precisam de uma atenção específica – e irmãos […] A gente até se surpreendeu quando veio um bebê tão pequeno. Eu imaginei que viria uma criança maior. Eu ficava imaginando… É uma gestação mesmo, a gente não sabe como vai vir a criança, da mesma forma como é com um filho biológico”, comenta a jornalista.
No dia seguinte ao telefonema com o convite para conhecer o bebê de 1 ano, Márcio, Keka e Helena foram ao abrigo conhecer o garotinho. “O Marcio foi direto do trabalho e eu passei em casa pra pegar a Helena pra irmos nós três. Nós estávamos muito ansiosos, cada um tinha suas apreensões […] Quando chegamos no abrigo, era um abrigo bem legal, era limpo, tinha cheiro de comida fresca sendo feita. A dificuldade do abrigo é que a criança não tem atenção individualizada. Entramos na sala da psicóloga, que nos recebeu muito bem, que acabou virando minha amiga. Ficamos aguardando trazer o menininho e eu quase enfartando! (risos) Aí entrou o João igual um macaquinho, segurando com as pernas no colo da cuidadora. Ela colocou ele no meu colo e eu desabei a chorar. Chorar e agradecer porque é muito difícil imaginar que um filho seu passou tanta coisa longe de você”, lembra a mãe, emocionada.
A jornalista conta que o marido Márcio e a filha Helena também se emocionaram muito. De repente, estavam todos chorando de felicidade. “É ele! É ele! É ele!”, diziam. Ao ver a conexão, a psicóloga na mesma hora telefonou para a Vara da Infância, avisando que João Miguel havia encontrado sua família.
Foi quando começou outra fase do processo, quando a documentação do menino João se juntou aos de Keka e Márcio. O casal ainda teve que esperar uma semana para obter a autorização judicial para levar o menino para casa. Enquanto isso, o visitaram diariamente e passaram o dia todo no abrigo, em um domingo.

Convivência
Outra importante etapa desse longo caminho trilhado por Keka e Márcio, a convivência com João Miguel, começou quando a Justiça lhes deu a guarda provisória e finalmente levaram a criança para casa. Conforme a cartilha da adoção, elaborada pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja-MT), a fase de convivência tem prazo fixado pelo juiz e é sempre acompanhada pela equipe interprofissional, responsável por emitir um relatório acerca da convivência para deferimento ou não da adoção.
Para Keka, essa fase foi “muito boa”. Ela lembra que quando João foi morar com sua família, não tinha o comportamento que se esperava de um bebê, pois ele era muito autossuficiente, fazia tudo sozinho, sem reclamar, nem demandar ninguém. “Acredito que ele chegou um pouco deprimido, não demonstrava muitos sentimentos, muitas emoções. Ele não ria, não chorava, ele aceitava tudo. Na hora de dormir, ele virava pro lado e dormia, não procurava muito o carinho de ninguém”. Além disso, o menininho não falava ou balbuciava, o que fez Keka procurar informações sobre como ajudar no desenvolvimento infantil.
A conquista do coração do filho se deu após o respeito ao espaço e sentimentos dele. “A gente foi se aproximando convivendo com ele. Nessa época, eu olhei vídeos de fisioterapeutas ensinando a trabalhar a linguagem da pessoa, fui trabalhando… Na hora de mamar, ele não deixava chegar perto. E eu, na minha vontade de ser mãe, sentia vontade de chegar perto. Um belo dia, ele deixou eu chegar perto, as lágrimas rolavam de emoção”, relembra Keka.
Ela acredita que João Miguel chegou tão independente por causa da rotina bem estabelecida do abrigo e também por causa da falta de uma atenção individualizada, por mais que as cuidadoras façam um belo trabalho. “No abrigo são muitas crianças e ficar chorando não dava muito resultado, então, ele foi se adaptando àquela realidade de lá. Por exemplo, no abrigo, as crianças tomam banho 5 horas da manhã. Aqui em casa, ele foi vivendo o que a gente vive aqui, se tornando um Werneck da Cruz”.
Durante toda a fase de convivência até terminar o processo judicial, a família nunca postou fotos de João Miguel e também não autorizava outras pessoas a postarem, para preservar o máximo da privacidade da criança.
“Qual é o nome do seu filho”
A penúltima etapa do processo de adoção de João Miguel, a sentença, se deu há menos de três meses. Houve uma audiência no Ministério Público Estadual (MPE), onde foi informada a perda, por parte da família biológica, do poder familiar, ou seja, a perda de todos os direitos sobre a criança, inclusive de tentar tê-la de volta. E também foi perguntado à Keka: “Qual é o nome do seu filho”. A pergunta é feita porque os pais adotivos podem, caso queiram, mudar o nome da criança. O nome João Miguel foi mantido. “Ele já tinha 1 aninho com todo mundo chamando ele de João Miguel, é um nome que a gente gosta. Não vi motivo de escolher outro nome, não quero que ele cresça negando a sua história”, explica a mãe.
Keka também enfatiza que, apesar de seu filho ter sofrido muito antes de chegar aos seus cuidados, não guarda mágoa dos então responsáveis. “Não vou nutrir dentro de mim raiva de quem fez isso com ele porque, com certeza, estava numa situação de degradação social e econômica”.
Depois da audiência no Ministério Público, houve mais uma – a última – na Vara da Infância e Juventude, apenas para proferimento da sentença dando a tutela definitiva de João Miguel para Keka e Márcio, cancelando a certidão de nascimento antiga e autorizando-os a confeccionar uma nova certidão de nascimento para o filho.
Foram 5 anos na fila de espera e mais 1 ano e 7 meses no período de convivência. Quando o grande dia chegou, e João finalmente pôde ser considerado de fato filho de Keka, ela, como boa jornalista que é, comemorou com artigo publicado, e (claro!) um jantar com familiares e amigos próximos. Hoje, eles desfrutam da última e permanente fase da adoção que é a “nova família”.
Hoje, conforme Keka, João Miguel vive a fase da “bebelescência”, faz coisas engraçadas, está passando por uma “explosão” na linguagem. “Agora ele está numa fase muito engraçadinha, ele se reconhece como pessoa, então, se a gente fala alguma coisa, ele opina. Está muito engraçadinho pra falar e também muito arteirinho”, revela a mãe.

Entusiastas da adoção
Passado todo o processo de adoção, Keka e Márcio tornaram-se entusiastas desse gesto de amor. Não perdem a oportunidade de falar do assunto, de incentivar amigos que pensam em adotar. Para eles, o Poder Judiciário poderia melhorar o processo de algumas formas: tornando-o mais ágil, focando o bem-estar da criança, independentemente dela ficar com a família biológica ou não. “O Judiciário dá muita volta pra restabelecer a criança na família biológica, fica buscando um tio lá da Bahia, um primo que nunca viu a criança… Isso retarda muito o processo. Talvez buscar um parente mais próximo. Porque a criança vai ficando lá e chega um momento que fica difícil da criança ser adotada”, diz, se referindo à dificuldade que envolve a adoção tardia.
A demora no processo, segundo Márcio, também pode levar muitos candidatos a desistirem de adotar. “Inicialmente, você vai com aquela empolgação, mas aí passa um, dois, três, cinco anos e a gente vai desencanando. Tem a possibilidade de desistir, mas a gente deixou correr e engraçado que, no momento que o cara ligou, reacendeu. Uma coisa dentro de mim falou: vai lá conhecer essa criança”, afirma.
Sobre ser pai, Márcio diz que está sendo “uma experiência muito bacana, de responsabilidade, dá até um ânimo a mais pra tocar a vida”.
Eu e minha esposa não conseguimos engravidar, aí depois de um certo tempo, decidimos partir para a adoção. Primeiramente conseguimos a guarda provisória do Vicente. Nós adquirimos a guarda dele desde o seu nascimento. Demorou um pouco ganharmos a guarda definitiva dele. Depois de um ano aproximadamente, a justiça nos concedeu a guarda definitiva e hoje ele está com 13 anos de idade!!! Está sendo ótima essa experiência de vida!!!
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Que massa, Clóvis! Obrigada por compartilhar sua experiência. Muita felicidade pra vc e sua família!!
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