Olá, mamães! Tudo bem? A vida da gente é uma correria, mas, o mês de agosto, é um mês mais movimentado ainda, desde que me tornei mãe, porque é o mês Agosto Dourado, de conscientização e promoção do aleitamento materno. Eu sempre abro espaço para o tema aqui no blog, mas, neste ano de 2021, vivemos novos patamares. Como estou secretária da associação Grupo de Apoio Supermães, estive envolvida na organização da “Carreata Pela Amamentação”, que aconteceu no dia 31 de julho, e, no último dia 2 de agosto, representei o Supermães no webinar de abertura do Agosto Dourado Mato Grosso 2021, organizado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES). Foi um grande desafio para mim participar desses dois eventos! E eu quero e vou compartilhar aqui a minha apresentação. Abaixo, está o texto base da minha apresentação no webinar. A apresentação ficou salva no Youtube, vou compartilhar o vídeo aqui também. O tema que eu abordei no webinar foi “O poder da mobilização das mães na proteção à amamentação”. Leia abaixo minha apresentação:
Meu nome é Celly Alves Silva, tenho 30 anos, sou jornalista, mãe da Laura, que está com 2 anos e meio e membro do Grupo de Apoio Supermães. E é com essa perspectiva de mãe que eu venho contribuir neste evento, sem qualquer pretensão de trazer alguma novidade da Ciência sobre o aleitamento materno ou ensinar nada a ninguém, mas com o objetivo de ajudar a construir uma reflexão coletiva sobre a importância da rede de proteção e apoio em torno das mães e entre as mães para o sucesso da amamentação.
Vou falar a partir da minha perspectiva de mãe. Uma mãe que, até engravidar, nunca havia se interessado pelo tema da amamentação, não entendia nada de leite materno, não sabia a diferença entre fórmula e composto lácteo, enfim, não sabia nada sobre o assunto. Por sorte, eu tive condições de fazer um curso de gestante, onde uma enfermeira consultora em amamentação fez uma palestra. Foi aí que eu ouvi falar pela primeira vez na vida sobre a hora de ouro, o contato pele a pele, sobre aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida, sobre livre demanda, sobre o colostro, sobre bicos… Foi aí que eu descobri que o leite materno é a nossa primeira vacina, que ele faz bem para o sistema imunológico da criança e tem sua fórmula inteligentemente adaptada a cada bebê, que a mãe que amamenta tem mais chances de voltar ao peso anterior à gestação e prevenir câncer de colo do útero.

Foi um privilégio poder fazer aquele curso oferecido pelo plano de saúde! Nele eu também aprendi que a produção do leite materno depende de vários fatores físicos e psicológicos, que a mãe precisa estar bem hidratada e bem consigo mesma, relaxada, descansada, calma e feliz, isso porque a ocitocina, o hormônio do amor, tem importante papel na descida do leite.
Naquele desejo enorme de fazer dar tudo certo nesse processo de me tornar mãe, durante a gravidez eu também li um livro, chamado “A maternidade e o encontro com a própria sombra”, da psicóloga argentina Laura Gutman. Nele, a autora aborda a amamentação sob uma ótica naturalista, emocional e até mesmo espiritual. Para Gutman, a amamentação não proporciona apenas alimento à criança, mas também é um momento de comunicação entre mãe e filho, calor, contato, presença, abrigo, conexão.

“Extasiadas diante do milagre, tentando reconhecer que fomos nós mesmas que o tornamos possível, e nos reencontrando com o que é sublime. É uma experiência mística se nos permitirmos que assim seja. Isso é tudo de que se necessita para poder amamentar um filho. Nem métodos, nem horários, nem conselhos, nem relógios, nem cursos. Apenas apoio, proteção e confiança em ser você mesma mais do que nunca”.
Aqui eu vou discordar só um pouquinho da Laura Gutman, quando ela fala que não precisamos de métodos e nem de cursos porque, muitas vezes, pode ser através disso que a mulher vá conseguir apoio e proteção, seja da parte de um pediatra, de uma consultora em amamentação, por exemplo. Muitas vezes, a ajuda profissional se torna um oásis em meio a tantos palpites de pessoas que, por serem próximas a nós, se acham no direito de falar o que querem e até mesmo de subestimar a mãe, pelo fato de sua pouca experiência.
Mas Laura Gutman diz que não é preciso cursos e nem métodos levando em conta que a lactação, juntamente com o parto, é a forma da mulher explorar o seu lado selvagem, no sentido de voltar às origens da forma mais natural de vida possível, em que não havia ainda empecilhos culturais em torno desses temas.
“Outra adversária do leite é a absurda ideia de que o bebê vai ficar ‘mal acostumado’. Qualquer outra espécie de mamífero morreria de rir (e também morreria) se aquilo que o recém-nascido reclama para sua subsistência lhe fosse negado. Os seres humanos são muito menos inteligentes do que acreditam quando pretendem negar as leis da natureza, complicando a existência”, diz Laura.
Sabiamente, além da visão profissional, mas também com a experiência de mãe, a psicóloga argentina nos lembra que quando o bebê tem dificuldade para mamar a palavra-chave é paciência, que é a ciência da paz. “O bebê e a mãe necessitam de paz e tranquilidade. E de apoio emocional. Se o bebê não consegue sugar, então, temos ainda mais motivos para deixá-lo sobre o peito”, defende, citando de maneira sutil a importância do contato pele a pele.
Outro ponto trazido pela autora e com o qual concordo é que “toda mulher bem apoiada, afetivamente compreendida e ouvida com solidariedade terá boas condições de tomar conta do bebê”. Isso significa que a mãe que está lidando com o desafio de aprender junto com um recém-nascido a amamentar precisa de apoio para estar bem para ela e para o bebê. Mas primeiro para ela. Não adianta a mãe, a sogra, a avó, a tia, a irmã ficarem a disposição para ajudar com o bebê, se não conseguem dar um pouco de descanso para a mente de uma mãe que se abala por tudo, que está em momento de fragilidade. A prioridade deve ser a mãe. Dar o suporte necessário para que essa mulher esteja disponível para ter alguns momentos para si e também para a criança.
“Uma mulher puérpera não deve ficar sozinha muito tempo. Precisa de assistência, de companhia e da disponibilidade de outra pessoa, que não interfira nem abuse de sua autoridade, que não a julgue nem se intrometa, mas que esteja presente, que se encarregue das tarefas delegáveis e tenha capacidade de atender as demandas sutis de uma mãe com um bebê nos braços”, diz Laura Gutman.
Eu tive acesso a todas essas informações antes mesmo de me tornar mãe, ainda durante a gravidez. Na primeira quinzena de vida da Laura, eu recebi a visita de uma consultora em amamentação para me orientar na minha casa. Sei bem que sou uma privilegiada por isso. Durante a gestação, eu ainda tive a oportunidade de ter outra coisa que Laura Gutman coloca como importante: de ter contato com outras gestantes e puérperas que conheci no curso de gestante, na terapia em grupo, na hidroterapia. Muitas dessas mulheres eu mantive o contato depois que nossos bebês nasceram. Criamos nossa própria rodinha de mães, nos encontrávamos com frequência, cada vez na casa de uma para bater papo, colocar os bebês para interagir, lanchar…
Em um desses encontros na casa de uma amiga que a maternidade me deu, ela convidou as outras mães para um encontro sobre o sono do bebê. Eu fui e foi lá que eu conheci o grupo de apoio Supermães. Laura tinha apenas 2 meses de idade e, desde então, eu fui em praticamente todos os encontros do grupo, uma vez que a minha vida havia mudado completamente com o nascimento da Laura. Eu que já não tinha muitos amigos, passei a ter muito menos, mas ganhei as amigas mães, com quem a minha vida se tornou muito mais compatível.
Entrei no grupo de WhatsApp do Supermães e, ali, passei a ter um espaço para poder desabafar a qualquer momento que quisesse. E eu ficava impressionada com o fato de que, em qualquer horário, até de madrugada, sempre havia uma mãe acordada para dar uma palavra de apoio, para mostrar que não era apenas aquela mãe que estava com dificuldade, que ela não estava sozinha.
Outra coisa que me encantou no grupo Supermães foi o fato de que ele realmente promove a rede de apoio. Os encontros eram marcados não somente pela presença das mães e seus filhos, mas também dos pais, avós, tias… Eram momentos muito especiais, de muito conhecimento e partilha de sentimentos. A cada encontro eu saía fortalecida para seguir no propósito de ser a melhor mãe possível. Não a mãe perfeita, mas a mãe que, mesmo com todas as dificuldades, segue nessa missão de forma consciente.
Tudo o que relatei aqui é muito bonito, muito certinho. Agora, pensemos nas mães que não tiveram a mesma oportunidade que eu tive e tenho de ter um plano de saúde, de ter apoio de mais de um grupo de mães, de ter acesso à informação de qualidade. São mães que, muitas vezes, não têm condições de ter o básico, como alimentação, trabalho e moradia. Mães que talvez foram alimentadas com o chamado “leite em pó” e que ouviram de suas mães, sogras, tias palpites para oferecer aos seus filhos esses produtos, além de chás.
Em relação ao cansaço físico e emocional, acredito que nenhuma recém-mãe consiga fugir disso, nem mesmo as mais abastadas. Mas a qualidade da rede de apoio faz toda a diferença no processo de superação das dificuldades cotidianas que envolvem a maternagem.
No Grupo Supermães eu pude testemunhar vários relatos, várias experiências de mães que tiveram problemas no início da amamentação. Vi as voluntárias do grupo orientarem sobre a pega correta, sobre as formas de tratar o seio machucado, sobre a importância da mãe se cuidar, se hidratar, se alimentar bem, de ter tempo para descansar e relaxar. Vi as voluntárias se organizando para fazer visitas domiciliares.
Eu mesma tive a oportunidade de, certa vez, ir com a Josemara Lima, presidente do grupo Supermães e que tem qualificação em aconselhamento materno, na casa de uma puérpera no bairro Santa Terezinha, de forma voluntária, ajudar uma mãe que, após tentar amamentar seu filho, mas não conseguir fazer a pega correta, acabou recorrendo ao bico de silicone e, então, o filho se acostumou e chorava toda vez que a mãe oferecia o seio diretamente.
Ela queria muito amamentar sem bico de silicone e a Josemara, pacientemente e carinhosamente, passou uma manhã inteira ensinando a forma de pega correta. A criança chorava e a mãe não conseguia lidar com aquele choro. Ela preferia fazer da forma que evitasse o sofrimento do bebê. Josemara e a mamãe ainda tentaram outras formas, como oferecer o leite materno na colherzinha ou no copinho.
Depois de alguns dias, eu acompanhei aquela mãe através de conversas pelo WhatsApp. Ela não conseguiu superar o choro de impaciência da criança e continuou usando o bico de silicone. Bom, pelo menos era o leite dela, não sei por quanto tempo ela amamentou a criança, mas, ficou a sensação de que fizemos o que pudemos para ajudar. Por outro lado, também houve casos de uma mãe que tinha problema da mama machucada, chegando a sangrar, por conta da pega incorreta que, através de uma assessoria da Josemara oferecida de forma virtual, por chamada de vídeo, por conta da pandemia, conseguiu tratar e voltar a amamentar sem dor no mesmo dia.

Em todos os casos, de sucesso ou não no aleitamento materno, o que fica para essas mães é a certeza de que podem contar com a empatia, o acolhimento e a solidariedade das mães do grupo de apoio Supermães. Acredito que, mais do que a amamentação bem sucedida, o que fica como maior legado dessas ações é o acolhimento emocional para essas mães.
Além da ajuda direta às mães que amamentam, o grupo de apoio Supermães também busca fazer com que todos entendam a importância da amamentação e da rede de apoio em torno da mãe. Isso ocorre todos os anos, através de mamaços públicos, participação no Agosto Dourado. No último sábado, 31 de julho, organizamos, juntamente com representantes de diversos segmentos da sociedade cuiabana, como as Secretarias de Saúde do Estado e do Município, da Universidade Federal de Mato Grosso, da Associação de Doulas de Mato Grosso, do grupo Do Ventre ao Coração, do Corpo de Bombeiros, da Secretaria de Mobilidade Urbana, dentre outros, a Carreta Pela Amamentação. Foi a primeira vez que este tema foi abordado em uma manifestação pública dessa em Mato Grosso.
De cima do trio elétrico, chamamos a atenção de centenas de pessoas que, das ruas, dos carros, das praças e das calçadas, falando sobre a importância de oferecer um copo d’água, uma almofada nas costas à mãe que está amamentando, sobre a necessidade de mais pediatras que orientam as mães sobre o aleitamento materno, sobre a qualidade do leite materno, que graças a ele chegamos à vida adulta com força e saúde. Enaltecemos o papel da mãe na sociedade. Isso é uma forma de incentivar a rede de apoio em favor das mães que amamentam. Essa foi uma grande oportunidade de falar com a sociedade.

Bom, esta é a minha experiência resumida com a amamentação e com a rede de apoio entre mães. Sou testemunha viva do quanto a informação de qualidade e da rede de apoio. Precisamos lutar para que todas as mães tenham acesso a isso. Quem ganha são elas, seus filhos e, consequentemente, toda a sociedade. Quero agradecer a oportunidade de representar o Supermães aqui, neste evento tão importante que é o Agostou Dourado e dizer que estamos juntos nessa missão, que é atuar em prol do aleitamento materno. Obrigada!



Querida Celly! Muito obrigada pelo seu relato, e por muito bem representar o Grupo de Apoio Supermães, com sua fala apaixonada! Nos enche de alegria e orgulho! Laura é uma menina privilegiada por ter uma mãe e mulher como você, que ressignificou sua vida com a vinda dela.
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