Aleitamento x medicação: como fazer uma escolha segura?

Desde que a Laura nasceu, em 30 de janeiro deste ano, e eu passei a ficar em casa exclusivamente para cuidar dela, diminui a frequência com que eu fazia as tarefas domésticas e até mesmo de higiene. Por exemplo, não consigo tomar banho na hora em que quero (e/ou preciso), não consigo limpar a casa sempre, nem mesmo fazer a comida no horário certo.

Por causa dessa falta de tempo pra limpar a casa, meu apartamento, que é bem pequeno, fica sujo com mais facilidade, já que basta qualquer poeirinha ou pêlo da minha gata, Belinha, para o piso já ficar com aquele aspecto horrível.

O pior não é isso! O pior é a rinite que ataca, tanto quando está sujo e, mais ainda, quando vou limpar. Nessa semana passei um dia desses. Durante o dia, enquanto Laura brincava na cama, eu consegui limpar o meu quarto. Varri e passei o esfregão e já foi o suficiente pra ficar com coriza. Quando o Joni chegou do trabalho, eu aproveitei pra limpar o restante dos cômodos e piorei ainda mais. Não consegui dormir direito a noite de tanto que meu nariz escorria e ficava entupido. No dia seguinte, acordei ainda me sentindo cansada.

Desde que descobri a gravidez, em junho do ano passado, parei de tomar medicamentos. O máximo era um paracetamol quando estava com muita dor de cabeça. E depois que Laura nasceu, continuei evitando remédios. Mas nesse caso da rinite, me deu vontade de tomar um dos antialérgicos que tomava antes porque a situação estava complicada ao ponto de eu me irritar.

Só que depois que a Laura nasceu, o pediatra que a atendeu no primeiro mês falou para eu evitar ao máximo me medicar. O meu otorrinolaringologista disse que poderia tomar, quando precisasse, os antialérgicos que ele receitava antes da gravidez. Aí fui ver as bulas de dois dos remédios que tomava e ambos não recomendavam o uso por lactantes, por falta de estudos suficientes para garantir a segurança.

Daí eu fui buscar mais informações e acabei encontrando uma publicação do Ministério da Saúde: “Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias”, elaborado em 2010, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Conforme o material, poucos são os medicamentos capazes de fazer com que a mãe deixe de amamentar seu filho para tratar alguma enfermidade, ou seja, a interrupção da amamentação é recomendada somente em último caso, que será avaliado pelo médico.

Isso porque a Organização Mundial de Saúde (OMS) e inúmeras sociedades científicas ao redor do mundo recomendam o leite humano como alimentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida, e como complemento até os 2 anos de idade. O momento da amamentação, além de fornecer nutrientes para o bebê, também proporciona maior vínculo afetivo entre mãe e filho.

O manual do Ministério da Saúde também destaca que a maioria das drogas passa para o leite materno, mas em pequenas quantidades; e reforça que mesmo quando presentes no leite, tais substâncias poderão ou não ser absorvidas no trato gastrointestinal do lactente, ou seja, não há garantia de que o efeito esperado no organismo da mãe irá ocorrer também no da criança.

No guia, é feita a categorização de risco das drogas entre:

  • Uso compatível (verde) – usada para os fármacos cujo uso é potencialmente seguro durante a lactação, haja vista não haver relatos de efeitos farmacológicos significativos para o lactente.

     

  • Uso criterioso durante a amamentação (amarelo) – no caso, medicamentos cujo uso no período da lactação depende da avaliação do risco/benefício. Quando utilizados, exigem monitoramento do lactente, devendo ser utilizados durante o menor tempo e na menor dose possível.

    É bom destacar que novos medicamentos, cuja segurança durante a amamentação ainda não foi devidamente documentada, encontram-se nesta categoria.

     

  • Uso contraindicado durante a amamentação (vermelho) – esta categoria compreende as drogas que exigem a interrupção da amamentação, pelas evidências ou risco significativo de efeitos colaterais importantes no lactente.

Você pode conferir o material do Ministério da Saúde, na íntegra, clicando aqui. O mesmo conteúdo também está disponível, de forma mais simplificada, em um quadro, no site aleitamento.com. Os medicamentos são nomeados em sua forma genérica e não pelos nomes comerciais.

Outra fonte segura de informação a respeito da compatibilidade entre fármacos e aleitamento é o site e-lactancia, onde há uma base de dados de mais de 28 mil termos de busca. O site está disponível nos idiomas inglês e espanhol.

A iniciativa de disponibilizar as informações partiu de médicos pediatras, farmacêuticos e uma jornalista espanhóis ligados à APILAM (sigla em espanhol que significa Associação para a Promoção e Investigação científica e cultural da Lactância Materna), que tem como missão fomentar o aleitamento materno conforme a recomendação da OMS.

É importante destacar que esses guias aqui apresentados não substituem a consulta com seu pediatra ou especialista do caso para o qual está buscando tratamento. Eu, por exemplo, encontrei o conteúdo do Ministério da Saúde, mas, por precaução, perguntei ao pediatra da minha filha se podia tomar a loratadina, que conforme o guia, é liberado. E ele confirmou que eu podia tomar.

Além disso, eu me lembrei que este mesmo médico, sempre que reporto algum problema com a Laura, antes de indicar qualquer medicação, pede para observar por algumas horas e, às vezes, até o dia seguinte, sendo que, na maioria das vezes, percebo não haver mais o problema, ou seja, não há necessidade de medicação.

Foi o que aconteceu comigo. No dia seguinte à crise de rinite, eu ainda fiquei com um pouco de coriza durante a manhã, mas, a tarde, já estava 100% novamente. Com esse comportamento de aguardar e avaliar a real necessidade de tomar remédio, eu poupei minha filha de ficar exposta à substância que o organismo dela ainda não conhece.

Ambas as fontes apresentadas aqui (Ministério da Saúde e e-lactância) reforçam que é preciso avaliar a proporção entre risco e benefício na hora de tomar um medicamento. A prescrição deve sempre partir de um médico. Não sou a favor da automedicação, até porque isso pode gerar consequências graves.

A ideia aqui é mostrar que, às vezes ficamos confusas na hora de tomar um remédio, mas que existem fontes seguras de informação, além da bula (que é sempre bom ler antes de tomar o remédio). Além disso, acredito que seja importante fazer essa avaliação dos riscos e benefícios e partir para a medicação apenas se sua qualidade de vida estiver reduzida ao ponto de atrapalhar a rotina de cuidados do bebê e sua relação consigo mesma e com ele. O que eu posso dizer é que, desde que engravidei e passei a evitar remédios, descobri que sou mais forte do que imaginava! Acredito que o mesmo valha para todas as mães dedicadas!