Filme Tigers: o prejuízo da substituição do leite materno por fórmulas

Como vocês têm acompanhado aqui no blog, Laurinha e eu estamos participando e incentivando outras pessoas a participarem da 1ª Semana de Arte e Cultura da Amamentação de Mato Grosso (1ª Saca MT), um evento que faz parte da agenda do Agosto Dourado e que visa sensibilizar e conscientizar sobre a importância do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e complementar até os 2 anos de idade.

E a programação já começou, na noite de quinta (1º), Dia Mundial da Amamentação, com uma “pancada” que foi a exibição do filme Tigers. O drama é baseado na história real do paquistanês Syed Aamir Raza (Ayan), que foi representante de vendas de fórmulas infantis da Nestlé e, após ter contato com bebês desnutridos e morrendo com diarreia em decorrência da substituição do leite materno pelas fórmulas, que eram servidas de forma nada higiênica pela população pobre da cidade onde morava, se demitiu e denunciou as consequências do uso do produto e o lobby da indústria, que assedia médicos para que estes passem a receitar as fórmulas, em trocas de presentes e favores financeiros.

O nome Tigers, inclusive, provém da forma como os vendedores são chamados durante o treinamento da empresa, já que devem agir de forma agressiva, conhecendo bem seus clientes, no caso, suas presas, antes de oferecer os produtos, ou, na metáfora, de atacar.

Após fazer a denúncia, o ex-vendedor da Nestlé e sua família passaram a sofrer forte pressão e ameaça, tendo o jovem que pedir ajuda a uma Organização Não Governamental (Ong) e se exilar no Canadá.

 

Misturando cenas fictícias com reais, sendo estas imagens de crianças raquíticas, padecendo de desidratação decorrente da diarreia e sem condições de sobrevivência, já que não tinham a imunidade presente no leite materno, o filme é chocante e traz um alerta de extrema importância: mães estão sendo erroneamente orientadas a oferecer fórmulas a seus filhos ao invés do leite humano e isso tem gerado sérias consequências, mortes de bebês não só no Paquistão, mas em diversos países pobres e em desenvolvimento. Conforme estudo produzido em 2016 pela Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN), cerca de 5 milhões de crianças menores de 5 anos sofrem de desnutrição em algum momento de suas vidas, no mundo. Dessas 17 milhões sofrem de desnutrição severa.

Após a exibição do filme, houve um debate entre o público e a professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Maria Cristina Passos, que é doutora em Ciências da Saúde, com concentração em Saúde da Criança e do Adolescente e membro da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN Brasil). Na discussão, foi possível constatar que o enredo narrado no documentário ocorre mais próximo do que poderíamos imaginar. Um médico pediatra e uma estudante de Nutrição da UFMT contaram que já sofreram o assédio de indústrias durante congressos científicos. Esse mesmo pediatra também relatou já ter atendido dezenas de bebês em situação semelhante à mostrada no filme, quando trabalhava no Rio de Janeiro.

Eu confesso que já tinha ideia desse tipo de prática totalmente imoral das grandes empresas, mas quando você vê as imagens das crianças e ouve os relatos, é muito mais chocante e perturbador. O documentário mostra que o presidente da Nestlé chegou a ser entrevistado para falar sobre os impactos das vendas de suas fórmulas em países pobres e em desenvolvimento e se esquivou da responsabilidade. Para eles, a culpa é do governo que não oferece água potável para a população, ou dos médicos que receitam sem haver a necessidade, ou das próprias mães, sendo que muitas delas são analfabetas e não podem ler as instruções de uso.

Independentemente de quem seja a culpa, o fato é que milhares de crianças passam por situações adversas de saúde de forma desnecessária, já que bastariam mamar nos seios de suas mães para estarem livres de contaminações, intoxicações, desidratações, enfim, estarem um pouco mais protegidos de doenças e da morte precoce.

Foto: Tchélo Figueiredo

O filme nos leva a refletir sobre como nosso leite é uma dádiva da natureza, um líquido precioso, que tem o poder de manter a vida em estado de saúde. Não é à toa que é chamado de “gota de ouro”. É triste saber que muitas mães não tem o acesso à informação necessário para cuidarem de seus filhos da melhor forma. E pior ainda, é horrível saber que quem detém a informação, muitas vezes prefere orientar de forma errada, visando benefícios próprios.

Durante o debate, foi falado da necessidade de levar a informação não só para profissionais da saúde, que eram a maioria do público presente, mas para a população em geral, para as famílias, para as escolas de educação infantil. É importante que toda a população esteja ciente de que a responsabilidade pelo bem-estar das nossas crianças é de todos nós! A minha parte é compartilhar essa informação aqui no blog e nos grupos dos quais participo.

Leia também – Vem aí a 1ª Semana de Arte e Cultura da Amamentação!

Em muitos desses grupos, vejo mães relatando que os médicos receitaram fórmula e que elas estavam infelizes com isso, porque estavam com dificuldade para amamentar, mas que queriam continuar tentando pois sabem dos benefícios, não só para a saúde do bebê, mas também para o vínculo afetivo entre mãe e filho. Fico feliz em ver que as outras mães sempre ficam do lado da mãezinha fragilizada, com palavras de ânimo e com informações. Durante a amamentação, é essencial contar com uma rede de apoio (assunto que rende outro post), com uma consultoria em amamentação, entre outros fatores.

O que posso dizer a essas mães é: não desistam! Busquem conhecimento e irão descobrir uma infinidade de benefícios do leite materno e o quanto vale a pena insistir e resistir na prática da amamentação. Se preciso for, troque de pediatra, busque algum profissional mais atualizado, defensor do aleitamento materno e com empatia.

Veja alguns benefícios do leite materno para o bebê:

– O leite humano contém todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento, até os 6 meses, e em proporções ideais a sua capacidade digestiva;

– Auxilia na formação das células de defesa;

– Reduz o risco de alergias;

– Melhor resposta a vacinação;

– Melhor desenvolvimento da cavidade bucal;

– Melhor desempenho em testes de QI;

– Diminui o risco de doenças crônicas.

Benefícios para a mãe:

– Ajuda a evitar nova gestação;

– Ajuda a retornar ao peso pré-gestacional;

– Reduz o risco de hemorragia após o parto;

– Reduz a chance de câncer de mama.

Outros benefícios:

– É gratuito;

– Promove vínculo afetivo entre mãe e filho;

– Melhora a qualidade de vida para toda a família.

Bom, minha gente, a experiência de ontem, ao ver o filme e participar do debate foi muito proveitosa. Recomendo que procurem o documentário para assistir também. Que busquem leituras a respeito da amamentação. Em uma busca rápida, encontrei no site da IFBAN vários materiais e links interessantes e úteis para quem é curiosa e gosta de saber mais.

Foto: Tchélo Figueiredo

Outro ponto que foi especial para mim na ida ao evento foi o fato de ser a primeira vez da Laura no cinema. Ela dormiu a maior parte do filme e mamou (claro! Kkkkkk). Houve um momento, no início do filme, em que Laura chorou bastante (tanto que tive que sair da sala de cinema) porque ela se assustou com um colega que queria pegar ela no colo. Não sei se foi porque ela queria mamar, porque estava escuro e ela não sabia quem a estava pegando… Eu fui a única mamãe com bebê lá, infelizmente. Queria ter encontrado mais famílias.

Falando nisso, fica aí a dica para que vocês estejam nas demais programações da 1ª Saca MT. Está em cima da hora, mas hoje ainda tem o show “Força Mulher”, da cantora Estela Ceregatti, no Teatro Zulmira Canavarros, às 20 horas. Neste sábado (3), às 15h, tem abertura de exposição de artes plásticas com tema da amamentação no Palácio da Instrução. Não fiz postagem sobre dicas culturais para o final de semana porque a própria Saca já nos proporciona atividades bem legais para este fim de semana! Confira a programação completa no post que fiz sobre a Semana.